Os homens também choram
- caminhosdecidadani
- Aug 5
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Updated: Oct 1

Neste texto direcionado a jovens adolescentes abordam-se questões relevantes sobre a construção social da masculinidade, promovendo uma reflexão crítica sobre as expectativas impostas aos homens e encorajando uma aceitação mais ampla da diversidade na expressão masculina.
Masculinidade... Masculinidades...
Eis um assunto cada vez mais visível, analisado e estudado.
Finalmente, começam a surgir os primeiros sinais de que é possível ser homem de uma forma diferente da que nos tem sido ensinada.
Os homens também choram: a diversidade da masculinidade
“Os homens são fortes…” “Os homens não choram…” Estas são apenas duas das expressões mais comuns a que estamos expostos, seja qual for o contexto do nosso quotidiano. Dir-se-ia que a nossa masculinidade está circunscrita ao limite do que podemos e não podemos fazer, ou melhor, do que é socialmente aceite e do que não o é.
Mas porque deveria um homem mostrar a sua masculinidade agindo, sentindo e expressando-se de acordo com certos critérios sociais, se a forma como ele age, sente e se expressa é diferente desses critérios? Eis como podemos responder a esta questão, e a mais algumas perguntas sobre o mesmo assunto.
A que chamamos masculinidade?
A masculinidade reúne toda uma série de atributos, características e traços que servem para identificar os homens num dado contexto social. Contudo, esta série de atributos, características e traços não só tem uma função de identificação, como também cria um sentimento de identidade, que é socialmente reforçado pela existência dessas mesmas particularidades.
A masculinidade não é um conceito nocivo, nem deve ser eliminada. O que pode ser nocivo ou prejudicial é a forma como essa masculinidade é construída. Ou seja, a forma como a sociedade define os atributos, características e traços da masculinidade.
Como são selecionados os elementos que definem a suposta masculinidade? Na vida quotidiana, homens e mulheres aprendem o que significa, ou não, ser masculino, sobretudo através de modelos sociais e educação.
Será que construímos uma masculinidade saudável?
Vamos responder a esta pergunta através de um exemplo, que, embora não seja real, já se viu replicado milhares de vezes:
Rodrigo é um rapaz de seis anos, muito sensível, que, sempre que vê um filme de animação e uma das personagens morre, chora. Sentada a seu lado no sofá, a avó olha para ele e comenta, num tom afetuoso e cheio de boas intenções: “Não chores, querido! Os homens não choram”.
Rodrigo, que também é um rapaz muito introspetivo, reage com surpresa ao comentário da avó, e fica a pensar no que poderão significar aquelas palavras… A situação deixa-o desconfortável, pois sabe que é um rapaz, e a avó referiu-se a homens.
Alguns anos mais tarde, Rodrigo lembra-se do comentário que a avó teceu, e compreende, finalmente, que não era a sua masculinidade que estava em causa. O que estava em causa era o facto de a única masculinidade socialmente aceite ser aquela que o comentário da avó lhe transmitia.
Nesta história, seria injusto culpar a avó de Rodrigo, pois ela apenas exprime o que aprendeu ao longo da sua vida. Infelizmente, contudo, há muitos “Rodrigos” que sofreram com esse tipo de avaliação, e que passaram por muitas crises, umas mais subtis e outras mais explícitas, causadas por este tipo de juízo social.
Podemos, pois, afirmar que não construímos uma masculinidade saudável, porque a masculinidade social predominante cria dissonâncias nos próprios homens, fomenta um clima de desigualdade entre homens e mulheres, e estigmatiza alguns dos comportamentos mais louváveis que existem, tais como a expressão do afeto e do cuidado emocional.
As diversas formas de ser homem
Felizmente, há cada vez mais homens que se distanciam do estereótipo tradicional de masculinidade, e que se definem como homens em função da sua própria personalidade, e sobretudo em função da sua própria forma de sentir.
Na maioria dos casos, a expressão emocional masculina foi sempre censurada ou limitada pelos próprios homens. Esta perspetiva pode constituir uma ajuda preciosa para começarmos a desconstruir a nossa masculinidade, e a exprimir livremente as nossas emoções, inseguranças, e medos, entre outros sentimentos.
Isto não significa que todos os homens tenham de expressar as suas emoções de uma determinada maneira, mas significa que quem necessitar de o fazer pode fazê-lo, sem ter de temer o julgamento constante dos que o rodeiam.
É também importante redefinir conceitos estreitamente ligados à masculinidade, tais como coragem ou força. Por isso, em vez de apelar à coragem de um homem para aceitar desafios, porque não apelar à coragem de um homem para pedir ajuda, para poder expressar algo que o assusta, lhe causa tristeza, ou até mesmo vergonha? E se um homem forte for justamente aquele que abraça a filha quando ela chora?
Se censurarmos, nos homens,
comportamentos que exprimem gentileza, sensibilidade e afeto,
teremos de repensar seriamente, enquanto sociedade,
o que significa ser homem hoje.
Alberto Álamo
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